27/07/2011

Review - XXY


Diretor: Lucía Puenzo
Idioma: Espanhol
Gênero: drama
Sinopse: Alex (Inés Efron) nasceu com as características sexuais de ambos os gêneros e, para fugir dos médicos que insistiam em corrigir a ambigüidade genital da "garota", a família leva-a para um vilarejo no Uruguai. Convencidos de que uma cirurgia seria uma violência contra seu corpo, eles vivem retirados numa casa nas dunas. Um dia, recebem a visita de um casal de amigos, que traz com eles o filho adolescente. O pai visitante é especialista em cirurgia estética e se interessa pelo caso clínico da jovem. Enquanto isso, Alex, de 15 anos, e o rapaz, de 16, sentem-se atraídos um pelo outro.





É o primeiro filme do gênero que acabei vendo - não sei realmente se existem outros sobre esse assunto e, se souberem, deixem um comentário falando! Ele é filmado no Uruguai e acabei me surpreendendo com as atuações e a beleza das construções das cenas. Não é um enredo fácil, lidar com a transexualidade, mas o diretor e os atores conseguiram um resultado brilhante, creio.

A história é bem perturbadora. Temos Alex e seus pais vivendo isolados, por opção e por medo, da maioria das pessoas. Tudo muda quando Alex resolve contar a seu melhor amigo, agora que eles estão crescendo, que é diferente dos demais. Eles acabam brigando e isso desencadeia uma série de eventos na trama.
Alex é constantemente perturbada  por pressões e por pensamentos duais; ela se sente tanto menina quanto menino. O drama de seus pais é um espetáculo a parte, pois ambos sofrem muito com a (in)decisão que as características peculiares da filha gera na vida deles.

A trama começa, de fato, quando os antigos amigos da mãe de Alex chegam em sua casa; o marido da amiga é um cirurgião especialista em cirurgia estética e, aparentemente, só vê Alex como um objeto de experimento. O pai de Alex se recusa a operá-la, a mãe, por outro lado, já começa a pensar que este seria o melhor caminho para a filha. Alex, porém, começa a assumir uma personalidade mais masculina, parando de tomar os hormonios, por exemplo, que inibem o crescimento de barba e o engrossar da voz.

No meio disso tudo temos o filho do casal de amigos. O garoto, também adolescente, é retraído e sem muito interesse. Alex, porém, acaba se apegando a ele na esperança de que ele possa resolver seus conflitos mentais. Os dois, então, acabam partilhando as cenas de conflito (interno e externo) de maior parte do filme.

Como comentei, é um tema difícil que foi retratado com singularidade. A família e as pessoas em volta de Alex são bastante peculiares. Ela mesma é bastante estranha, digamos. Há diálogos bastante introspectivos e cenas "pesadas", como quando seu pai corta as nadadeiras de uma tartaruga marinha e ela observa, fascinada, o trabalho de "fatiar" e de "cortar corpos" (nas palavras dela). As cenas que ela desempenha com os amigos também são diferentes, e a própria relação dela com eles é diferente. Um destaque vai para a cena em que ela e o menino, o filho do casal, vão além dos beijos e partem para a descoberta mais profunda dos dois: Alex não quer ser só uma menina, e talvez o menino não queria ser só um menino. A partir daí, porém, as coisas vão ficando confusas.

Somos constantemente levados pelos pensamentos perturbados de Alex e seu modo estranho de encarar a vida. O fim do filme é uma icógnita, pois podemos ter a sensação de que não chegamos a lugar algum. Há muito sofrimento para, no final, ela só dizer que não sabe o que escolher e ficar tudo bem assim. Achei que faltou aquele "algo mais" para fechar com chave de ouro.

Ademais, o filme é ótimo. É daquele tipo que te faz parar para pensar. Além disso, a atriz que faz a Alex, Inés Efron, merece um Oscar. Sério.

2 comentários :

  1. Se não me engano a Inês ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Cartagena com esse papel. E só uma correção, o filme é argentino, filmado no Uruguai.

    Ótima resenha, filme brilhante.

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