24/03/2015

Review - Garoto encontra Garoto


Título: Garoto encontra Garoto (ou Boy Meets Boy, no original)
Autor: David Levithan
Idioma: Português/Inglês
Primeira publicação: 2003. Lançado no Brasil em 2014.

Sinopse: Paul estuda em uma escola nada convencional. Líderes de torcida andam de moto, a rainha do baile é uma quarterback drag-queen, e a aliança entre gays e héteros ajudou os garotos héteros a aprenderem a dançar. Paul conhece Noah, o cara dos seus sonhos, mas estraga tudo de forma espetacular. E agora precisa vencer alguns desafios antes de reconquistá-lo: ajudar seu melhor amigo a lidar com os pais ultra religiosos que desaprovam sua condição sexual, lidar com o fato de a sua melhor amiga estar namorando o maior babaca da escola e, enfim, acreditar no amor o bastante para recuperar Noah. 


Esse livro foi publicado em 2003 e essa é a primeira informação que vocês tem que saber sobre ele. A segunda é que esse foi o romance de estreia do Levithan. Já falei dele aqui, na resenha de Will & Will e em muitos outros lugares. Se você me acompanha, sabe que não tenho lá muito amor pelo David Levithan porque não consigo lidar muito bem com seus personagens - pelo menos não com os que ele co-escreveu, em sua maioria.

Mas eis que estarei me redimindo nessa resenha, acompanhem.

Como a sinopse já diz, em Boy Meets Boy nós vamos acompanhar uma pequena parte da vida de Paul, um garoto comum e normal, que passaria despercebido em qualquer lugar (eu imagino), mas que chamou a atenção de um novato na cidadezinha onde mora: Noah. E Noah também chamou a imediata atenção de Paul, cujo coração estava abalado por causa de um término difícil com seu último namorado, Kyle.

Percebam que a história não tem absolutamente nada de mais, e é justamente isso que a torna tão fluida e divertida de ler!

Paul tem dois melhores amigos: Joni, sua amiga de infância, e Tony, que sofre com a intolerância religiosa dos pais. Esses personagens "secundários" acabam formando um pano de fundo bastante denso na trama, que envolve Paul e todos os outros em pequenos detalhes que se amarram no final. Vou confessar que o Tony foi um dos meus personagens favoritos porque muitas das coisas que ele passa durante essa história eu mesma já passei, e isso me emocionou de forma particular.

Além deles, eu não poderia deixar de falar de uma das melhores personagens do livro: Infinite Darlente. Ela costumava ser um garoto chamado Daryl Heisenberg e que começou a se travestir num "momento íntimo de descoberta", digamos, se tornando tanto o quarterback do time do colégio quanto a rainha do baile do mesmo. Ela é uma personagem intensa em muitos sentidos, e gostaria que tivesse tido mais destaque na trama (apesar de não ser papel dela, e apesar de a história curta no final ter compensado muito isso!)...

Voltando à informação inicial: esse livro foi escrito em 2003. DOIS MIL E TRÊS, há mais de dez anos! E foi um choque por descrever, destacar e tratar com tanta naturalidade muitos personagens gays e uma personagem transgênero, que é a Infinite Darlene (e outra também, mas a Darlene é mais evidenciada). A sutileza com que o tema é tratado me fez apaixonar pela história em pouquíssimas páginas - aliás, o tema não é tratado, porque ele não precisa de tratamento, entende? Nós temos aqui uma história de amor como qualquer outra, cheia de reviravoltas, amizades complicadas, pais, escola, etc. Não importa se é entre dois garotos ou duas garotas, ou uma drag-queen e um líder de torcida. Não importa.

E foi exatamente isso que me fez me redimir com o Levithan. Ao contrário de muitos dos outros romances mais atuais dele, esse em específico é mais fluido, tem poucas referências forçadas, os diálogos são mais verídicos, e os personagens são mais reais e empáticos. Eu tive a impressão de estar lendo um romance chick flick em diversos momentos (o que, na verdade, foi a real proposta do David para este livro: mostrar que não só uma garota pode se apaixonar num encontro inesperado. Isso acontece com todo mundo independente da orientação sexual), e isso me ganhou muito porque gosto do gênero. Mas confesso que o mais importante foi pensar que uma história dessas não é utópica, ao contrário do que muitas resenhas (e até a editora) falam, sempre batendo na mesma tecla que é uma coisa "nada convencional", "diferente", etc. Não, gente! Vamos parar de pensar dentro da caixa, tudo o que acontece no livro é extremamente real e possível, sim, se as pessoas pudessem enxergá-la dessa maneira - e é por isso que recomendo a leitura.

capa original
Confesso também que essa sinopse brasileira me deixa com um pé atrás, e que a capa da edição nacional me decepcionou muito. A original é tão simples e bonitinha, não precisava de nada mais para capturar a essência do livro! Por outro lado, ao contrário de Will & Will, a tradução ficou bastante boa! Não tive nada a reclamar e em nenhum ponto senti alguma falha grave - só na classificação do nível escolar. Afinal, o Paul é um sophomore, não está no primeiro ano, mas isso eu entendo que foi uma adaptação para o sistema educacional nacional e não ficou ruim, ok?


De qualquer forma, eu gostaria muito que o Levithan pudesse voltar a escrever do jeito que escreveu Boy Meets Boy. Muito mesmo. E que criasse mais personagens como a Infinite Darlene - não vou cansar de dizer: que personagem MARAVILHOSA. A oneshot dela, acrescentada no final da edição brasileira, é simplesmente espetacular! Por favor, leiam!

Não sei como ficou Two Boys Kissing porque ainda não tive a oportunidade de ler, mas espero poder colocar o Levithan sempre no topo dos autores que eu posso indicar sem medo, como é o caso do Brent Hartinger (de Geography Club).

Por enquanto, por causa desse livro aqui, seu conceito comigo subiu ó, lá pra cima. Parabéns, David, também por ser um dos autores de YA LGBT que estão no topo da lista dos mais vendidos atualmente lá fora. Você batalhou muito pra chegar lá, apesar de que, pra mim, já poderia ter estado lá desde 2003, sim.

Um doodle meu da Infinite Darlene, essa maravilhosa!

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