28/07/2015

Review - Fake

Título: Fake
Autor: Felipe Barenco
Idioma: português
Ano de Publicação e Editora: 2015, Umô

Sinopse: "Fake" é um ya nacional com temática gay. Conta a história de Téo, que está prestes a completar vinte anos e acabou de passar para o curso de Direito. Não bastasse a euforia em começar a faculdade, ele se apaixona por Davi, um garoto que chegou ao Rio de Janeiro para ser ator.



Mais um daqueles achados nacionais.

Como a sinopse já fala, Fake conta a história de Téo, que acabou de passar no vestibular e entrar numa universidade. Em meio às comemorações, tudo estaria muito bem se não fosse a angústia de Téo de se esconder dos pais. Criado numa família "certinha", ele se vê ansiando por acabar com as farsas que ela lhe impõe, mas ao mesmo tempo morrendo de medo de fazer alguma besteira e ser rejeitado pelo que é.

Téo tem um melhor amigo inseparável chamado Tiago, que está entrando numa carreira promissora de ator, e uma melhor amiga à distância, Fernanda, com quem conversa virtualmente. Os dois são seus melhores conselheiros e ambos ficam com o pé atrás ao "conhecer" Davi, um garoto que Téo encontra por aí e imediatamente se apaixona.

O livro é bem denso - não é muito grande nem muito pequeno (264 páginas), na medida certa, mas o enredo é bastante recheado, ponto mais que positivo. Acompanhamos a vida de Téo durante vários anos, seus obstáculos até sua formatura na faculdade. Cada barreira vencida faz a gente vibrar com ele, o que mostra a empatia causada por todos os personagens!

Aliás, os personagens são um espetáculo! Todos eles foram imensamente bem construídos! Todos tem seus momentos no palco, tem personalidade e, acima de tudo, um caráter muito visível! É difícil encontrar romances cujos personagens sejam tão bem delineados. Destaco aqui o Guilherme, o Tiago e o Davi. Confesso que tive dificuldades em enxergar o Tiago no começo; ele tem umas contradições bem peculiares e uma personalidade difícil de enxergar hoje em dia. Mas ele é tão bem escrito que nos sentimos melhores amigos rapidinho! Eu me identifiquei pessoalmente com o Guilherme, mas não vou falar o motivo porque seria spoiler... Já o Davi é uma chave no romance - não dá pra ficar falando muito também, mas achei maravilhosa a construção dele. Cada detalhe combina perfeitamente com sua figura!

Fiquei meio chateada com os estereótipos marcados por alguns deles, porém, ou mesmo por diálogos,. Odeio estereótipos e sou do tipo que faz birra e larga a leitura na hora se algo desse tipo me incomoda. Mas, nesse caso, eles não deixam de passar a veracidade da trama. Só achei que algumas coisas poderiam ter sido deixadas de lado (como o diálogo do Tiago e dos pais dele, por exemplo, quando ele "saiu do armário").

O ritmo do livro é super bem encaixado. A trama é contada em primeira pessoa, e o Téo é um narrador que fala tanto com a história, quanto com o leitor. Juntar essas duas coisas na medida certa deve ter sido difícil, mas foi muito bem sucedido! Há passagens em que ele conversa diretamente com a gente, como se fôssemos conhecidos de longa data, e isso deu uma cara muito íntima à obra toda. Preciso dizer que adorei?

O pano de fundo é a cidade do Rio de Janeiro, e aqui vou ter que ser chata: não sou do Rio, nunca fui à cidade, inclusive. Então senti certa dificuldade em me localizar. Há menções a lugares que não faço ideia de onde sejam ou o que representam, e que não são hora alguma apresentadas ao leitor - um pouquinho de explicação seria bem válido. Como, por exemplo, o bairro onde a família do Téo mora: a impressão que tive é que é um lugar afastado, humilde, mas não dá pra saber ao certo. Quem é do Rio talvez reconheça pelo nome e entenda o significado de algumas entrelinhas, mas eu fiquei boiando... Acho que compreenderia certas nuances melhor se tivesse essa preocupação.

De qualquer forma, e pra deixar claro: eu amei o livro. Muito. Mesmo. A escrita do Felipe é limpa, crua e literária no ponto perfeito! Há diversas menções à eventos e coisas culturais no geral (seriados, TV, internet, etc), e isso deu um charme impressionante à narrativa! Parece ser algo tão simples, mas ao mesmo tempo é tão complexo, isso de saber quando encaixar referências demais (ou de menos), e o autor conseguiu o efeito desejado. Como partilhei de toda a época do Téo, apesar de ser mais velha que ele, essa transição de Orkut, MSN, Facebook e etc., foi tudo muito nítido pra mim e veio aquela nostalgia boa! O sentimento que eu mais gosto de ter quando leio alguma coisa - e me ganhou, com certeza!

Além disso, todos os personagens mostram direitinho as dúvidas que a gente tem ao sair da adolescência e enfrentar o mundo. Eu não classificaria o livro como YA, como é o descrito na sinopse. Se trata de jovens de vinte e poucos anos perdidos na vida. YA pra mim tem que ter protagonistas mais novos, não sei. Posso estar enganada, mas acho que isso gera uma expectativa diferente no leitor - pra mim foi ótimo.

Porém, acredito que, talvez por se ater muito à essa classificação, algumas pessoas podem não entender certas partes do livro. Eu não gosto de "limitar a leitura", do tipo que alguma coisa na escrita vá impedir certos tipos de leitores de se relacionarem com a história. E eu senti que Fake "bloqueia" certos tipos de leitores. Minha mãe, por exemplo, pegou o livro pra ler mas veio reclamar comigo que não entendia quando algumas menções vinham em siglas (GoT, por exemplo), ou em "carinhas" - isso, aliás, foi algo que chamou bastante a minha atenção também: emoticons ("¬¬") aparecerem em alguns "diálogos". Tem gente que não entende (como minha mãe). Quem não é "do mundo virtual" não se identifica com essas coisas... E sou do tipo que acha que, se a escrita for bem construída e encaminhada, não precisamos nos expressar por emoticons. Ta aí um ponto negativo, infelizmente.

Citação de uma das passagens mais lindas.

Confesso que derramei algumas lágrimas no processo, principalmente depois que comecei a "pegar" as entrelinhas de algumas coisas. Os títulos, gente, que coisa genial! E o final foi espetacular. Não, sério: pausa dramática para relembrar. Dá aquele calorzinho no peito, sabe? E te faz refletir sobre o livro inteiro. Voltei em diversas passagens depois que terminei e fiquei aqui, matutando sobre diversas particularidades da vida do Téo... O que mais me deixou encucada foi refletir até que que ponto a história dele não se misturou com a do próprio autor. Até que ponto Fake não é uma autobiografia (ou biografia)? Não sei, acho que nunca terei a resposta, mas, como o Téo mesmo diz: na ficção o leitor pode imaginar tudo. E eu quero imaginar que tanto ele quanto o Felipe foram e são felizes. Afinal, "nós sempre vamos ganhar. Esse é o nosso lema".


"Não existe nada mais instável que o coração".
Felipe, mas o senhor é destruidor mesmo, hein?
Você me fez fã eterna com esse capítulo, principalmente pelo nome, vamos combinar.

São escritas como essa que salvam a literatura nacional.

ps.: tanto o nome quanto a imagem da capa têm tudo a ver com uma passagem específica do livro, mas não posso contar!
ps².: essas epígrafes, meu coração!

Dedicatória <33

ps³.: a diagramação é linda! Quem fez o projeto gráfico tá de parabéns: ótima qualidade e, o melhor, um preço mais do que justo!

Obrigada pela confiança, Felipe! :)

Comprem Fake online! Chegou super bem embalado, com gostinho de cuidado! Vale a pena!


Um comentário :

  1. Oi, Lorena! :)

    Ai, estou de olho nesse livro há tempos! A capa é lindíssima (e eu sou do tipo de amar capas), o que me chamou a atenção logo de cara. Não li muitas resenhas dele, mas a sua foi, com certeza, a que mais me fez querer, definitivamente, conferir essa história. Parece singela e verdadeira, daquelas que a gente entra mesmo na trama e sofre com os personagens. Fiquei curiosa para saber dos nomes os outros títulos! :) Hoje eu quero voltar sozinho é muito amor (mas prefiro o curta, haha) <3
    Parabéns pela resenha! Estou amando acompanhar seu blog! :)

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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