03/01/2014

Os Desafios da Escrita - Obtendo Ajuda dos Grandes

Hoje é três de janeiro de 2014. Se estivesse vivo, Sir John Ronald Reuel Tolkien estaria completando 122 anos. Um dos maiores - senão o maior - escritor de fantasia de todos os tempos tem uma história de vida fascinante e que inspira muita gente até hoje. Inclusive a mim!

Como parte do seu legado, Tolkien deixou, além de obras-primas fantásticas (em todos os sentidos), uma extensa gama de conselhos e ensaios sobre o dom e a arte da escrita. Em junho do ano passado tive o prazer de participar de um curso de escrita (online) da Duke University, na Carolina do Norte, e usei alguns dos ensinamentos desse grande homem e escritor num dos meus trabalhos. Foi o texto em que obtive maior nota e também comentários dos professores - coisa que era rara de se ter, já que éramos mais de 100 mil alunos.

O trabalho está no original em inglês, mas como o dia de hoje merece, traduzi boa parte dele para o português e resolvi compartilhar com vocês. É um artigo acadêmico, então tem muitas citações e notas e... bom, tentei simplificar para não ficar tão "chato". Confesso que foi difícil, então se ficar sem sentido e alguém quiser o original em inglês, posso disponibilizá-lo. É só pedir.

Aconselho ler as dicas no original também. São dez no total e expus apenas algumas. Nas referências há links para quem quiser ler as outras.

Aproveitem!

Obtendo Ajuda dos Grandes

por Lorena C.O.


Hobbies, quem não tem um? Ou cinco?

Uma das primeiras perguntas que fazemos quando conhecemos alguém é sobre seus hobbies. Existem estudos sobre eles também e até uma lista dos 50 hobbies mais populares de todos os tempos. Então, se você não tem um, talvez seja hora de pensar em conhecer alguns. Como Elizabeth Scott realça, "hobbies trazem muitos benefícios que normalmente compensam o tempo que gastam" (2012). E no topo da lista nós temos a leitura como o hobby mais popular.

Mas não deveria a leitura ser somente um hobby, mas parte nos nossos hábitos e da nossa rotina? Estudos científicos feitos por Anne E. Cunningam e Keith E. Stanovich mostram que pessoas que leem mais, exercitam sua memória, aumentam seu vocabulário e comunicação, melhoram seu pensamento lógico e analítico e também, mas não menos, suas habilidades de escrita (2001).

Dependendo de seu trabalho, ler pode ainda fazer uma grande diferença no jeito como você realmente executa suas tarefas, mesmo as mais simples. Alguns trabalhos até dependem diretamente da leitura, e não o contrário. E aqui está nosso principal exemplo, como citado anteriormente: escrita.

Ser um escritor requer muito trabalho duro - e não somente imaginação, paciência e tempo para se focar. A maioria das pessoas pensa que é necessário possuir um "dom natural" para se tornar um, mas, como Colvin (2006) e Coyle (2009) já realçaram anteriormente, o que realmente faz do escritor um escritor (ou, na verdade, qualquer um) é: uma quantidade enorme de trabalho duro. E não estou falando somente sobre escritores famosos. Todo mundo que realmente escreve pode ser, em suma, um escritor em sua própria forma e área. Mas uma coisa que todos esses escritores devem ter em comum, e fazer, é: ler o tanto quanto podem, e mais. E ler não somente como o hobby nesse caso. Escritores podem se beneficiar com a leitura, e mais importante que isso: leitores podem se beneficiar dos escritores.

Para escrever ficção e ser de fato um escritor de ficção, ler parece ser a coisa mais importante a se fazer, depois de efetivamente escrever. Através da história nós temos muitos exemplos de escritores que dedicaram parte de suas vidas a ler o trabalho de outros - e não necessariamente como um hobby. O tal "talento natural" para a escrita parece algo cada vez mais raro hoje em dia, e isso nos faz até pensar se aqueles "escritores naturais", ou que "nasceram escritores" realmente existem. Como Coyle (2009) diria, não existe algo como "talento natural". Nós todos podemos fazer - e bem - algo que praticamos profundamente. E ler é uma maneira de praticar profundamente, especialmente para escritores (de ficção), já que a leitura representa "experiências onde você é forçado a diminuir seu ritmo (analisando o trabalho de outros), cometer erros, e corrigi-los" (p. 18).

Baseado nesse argumento, escritores tem procurado trabalhos que valem a pena o estudo para desenvolver seu próprio jeito de transformar em palavras os seus pensamentos e adquirir a técnica daqueles grandes nomes da literatura. Entre essas (grandes) pessoas nós temos esse homem sul-africano que tem milhões de fãs ao redor do mundo até hoje, mesmo 40 anos depois de sua morte, e é considerado um dos nomes mais respeitados da area: John Ronald Reuel Tolkien.

Tolkien publicou os romances fantásticos mais populares da história, O Hobbit e a trilogia d'O Senhor dos Anéis, depois de se tornar professor na Universidade de Oxford. Ele foi um acadêmico e escritor que inspirou muitos outros em muitos campos diferentes. Enquanto seus livros foram criticados, muitas ondas e mais ondas de leitores foram para no mundo de Tolkien, fazendo com que seus livros se tornassem best-sellers globais, com fãs formando clubes de discussão e aprendendo suas línguas ficcionais mágicas.

Tolkien não era um expert, e ele certamente não nasceu com um talento para "escrever fantasia e ficção". Ele estudou e trabalhou duro em suas obras-primas e adquiriu expertise ao praticar, falhar e fazer de novo. E de novo e estudando e fazendo o que ele primeiramente considerava como o hobby, como estamos prestes a ver.

Enquanto em Oxford, ele começou esse grupo de escrita chamado "The Inklings" (no original) e o conhecimento que desenvolveu com os membros é compartilhado até os dias de hoje como "dicas de escrita" e podem ajudar todo mundo - não somente escritores de fato.

Aqui estão algumas dessas dicas, mostrando como adquirir expertise e como a ideia de foco e trabalho árduo podem ajudar no seu trabalho e/ou carreira.

Mantenha os rascunhos guardados.

Para aqueles que são familiares com a biografia de Tolkien, é de conhecimento que O Hobbit começou a tomar forma muitos anos antes de sua publicação em 1937 quando, num momento de inspiração estranha, Tolkien escreveu a estranha frase que apareceu em sua mente. Ela seria depois a frase de abertura para o livro e aqui temos uma grande dica para as nossas vidas: pequenas coisas que no momento pensamos soar estúpido, podem ser a última peça do quebra-cabeças do seu projeto de vida! Mantendo suas ideias e trabalhando nelas é uma maneira de focar e praticar mais, então não jogue fora algo que não faça sentido no momento. Guarde-o.

Como a história soa?

Muitos grandes autores, de Roald Dahl a Richard Adams, aperfeiçoaram suas habilidades de contar histórias e desenvolveram suas ideias primeiramente fazendo exatamente isso: contando suas histórias em voz alta. Ler para os outros é uma boa maneira de ver se a história realmente soa bem e é a porta de entrada para receber críticas e feedbacks. Falando sozinho, ou para oturos, você pode até perceber se a estrutura das sentenças está boa, se as palavras escolhidas são as melhores, se as pessoas ficam interessadas. Enfim, você fica sabendo qual caminho seguir. Se não, é melhor começar de novo!

Não tenha pressa

No mundo de hoje nós comumente sentimos a pressão de escrever, entregar, avaliar, ser publicado... Tudo muito rapidamente. Mas a experiência de Tolkien sugere que trabalhos reais e verdadeiramente grandes se beneficiam do tempo. Ele desenvolveu seus livros através de anos, adicionando suas experiências pessoais, novas opiniões e descobertas. Analisando cada momento do nosso trabalho individualmente pode ser uma vantagem para torná-lo perfeito. Isso também é um exemplo de praticar profundamente e adquirir expertise. Quanto mais você escrever e rever seu trabalho, mais ele tende a ser conciso e bem estruturado.

Ouça críticas

Os livros de Tolkien não foram publicados da noite pro dia. Eles foram rejeitados, e então repensados e reescritos novamente e de novo. Ele escutou atentamente as críticas e entendeu que elas iriam melhorar sua escrita de uma maneira que ela seriam bem recebida por muitos. Nós devemos aprender a usar o conselho da crítica para nos ajudar a nos tornarmos escritores melhores. Obter feedbacks é muitíssimo importante e é um jeito de nos fazer capazes de alguma coisa.

Deixe que seus interesses - ou talvez até seus hobbies! - guie sua escrita

O interesse original de Tolkien era, na verdade, línguas e não exatamente em escrever. Isso mesmo, Tolkien gostava de aprender sobre linguagens e ele amava tanto isso que criou suas próprias línguas baseadas em outras mais antigas com as quais ele era intimamente familiar. Ele também foi motivado por ter crianças em casa e amigos que apoiavam suas ideias de criar histórias fantasiosas. Ele seguiu seus interesses o bastante para criar culturas inteiras baseadas nessas línguas e então escreveu histórias sobre elas, que depois se tornaram lendas, e livros, e mundos.

Como podemos ver, ele escreveu sobre o que o interessava mais. Se você está escrevendo sobre algo que não está em seu coração, pode sair algo vazio. Deixe que as palavras do seu texto venham de seus interesses pessoais, e não do que os outros querem ouvir ou ler de você. Elas também podem vir do seu hobby - ou podem virar o seu hobby!

Que tal escrever sobre algo que goste? Como a leitura? Então você estará fazendo duas coisas que gosta ao mesmo tempo e o trabalho se tornará melhor e mais íntimo.

Em conclusão, essas dicas mostram que, como leitores e escritores por hobby ou não, nós podemos ter grandes benefícios ao ler as palavras de outras pessoas e ver/saber sobre suas experiências em várias, várias areas de nossas vidas. Escolher a leitura como um hobby irá desenvolver o poder da sua escrita e pode não ser somente um hobby, mas parte de nossos trabalhos. E, se você gosta de ambos - de ler e escrever-, ambos se tornarão tão naturais e prazerosos como respirar.

Se escrever e/ou ler é seu hobby, você pode fazê-los perfeitamente juntos e ainda adquirir expertise. Apenas mantenha seu tempo sem pressa, escute os feedbacks e tenha seus rascunhos em mãos. Sempre.

Referências:
CARPENTER, Humphrey, ed. The Letters of J.R.R. Tolkien. 1st ed. Massachusetts: George Allen &
Unwin, 1981. Print.

CARPENTER, Humphrey, JRR Tolkien: A Biography. Houghton Mifflin Company, 2000.

COLVIN, Geoffrey. “What It Takes to be Great.” Fortune 19 October 2006.

COYLE, Daniel. "The Sweet Spot."The Talent Code. Greatness Isn’t Born. It’s Grown. Here’s
How. New York: Bantam, 2009. 11-29.

CUNNINGHAM, Anne E. and STANOVICH, Keith. What Reading Does for the Mind. Journal of
Direct Instruction, Vol. 1, No. 2, 2001. 137–149. Source:http://www.csun.edu/~krowlands/Content/Academic_Resources/Reading/Useful
%20Articles/Cunningham-What%20Reading%20Does%20for%20the%20Mind.pdf

MARTIN, Phillip. Six Writing Tips from J.R.R. Tolkien. 2012. Source:
http://www.bluezoowriters.com/six-writing-tips-from-j-r-r-tolkien/

SCOTT, Elizabeth. The Importance of Hobbies For Stress Relief. 2012. Source:
http://stress.about.com/od/funandgames/a/The-Importance-Of-Hobbies-For-Stress-Relief.htm
Tolkien’s 10 Tips for Writers. 2012. Source: http://writingishardwork.com/2012/04/29/tolkiens-10-
tips-for-writers/


Um comentário :

  1. Excelente artigo! Compartilhei em todas minhas redes sociais e no meu blog. Gostei bastante das dicas deixadas pelo Tolkien. Em tempos pós-modernos, onde as pessoas querem tudo pronto na hora, acredito que falta essa vontade de se especializar na escrita e aprender mais.
    Abraços

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