07/06/2017

Review duplo - Condicional + Remoto e Improvável

Postagem com resenha dupla de dois livros nacionais pouco conhecidos, mas que merecem TODA a sua atenção! Puxa a cadeira e vem ver:
Título: Condicional.
Autor: Paulo Sérgio Moraes
Idioma: português
Ano de Publicação e Editora: 2013, All Print.

Sinopse: Estas são lembranças de um homem que não se pinta no papel de protagonista bom caráter, até que ele foi surpreendido numa curva e isso mudou sua vida.
Condicional narra sobre Lucas, um fotógrafo arrogante que se envolve com o marginal Jota. Lucas, que nunca imaginou se render à paixão, descobre o quão nocivo pode ser tomar decisões sem se importar com os riscos.
Condicional é uma história intensa e de final surpreendente. Fala sobre a paixão que virou uma condenação.


Como conta a sinopse, a história gira em torno da vida de Lucas e das pessoas que (infelizmente) fazem parte dela. Somos apresentados aos seus amigos no ato de sua graduação da faculdade de psicologia: Vítor é o mocinho bom caráter e Thais, apesar de espevitada, parece ser o ponto de equilíbrio do grupo. Vítor é quase casado com um cara mais velho, de nome Cassio, que inclusive tem um filho (Dudu) e que mais tarde entra na vida do protagonista para ficar. Em meio a bebedeira e consumo de drogas na comemoração da formatura, Lucas e Thais fazem uma besteira que se desencadeia numa tragédia que afeta a vida de todos de maneira intensa e irreversível.

Lucas é um personagem odioso na maioria das vezes - mas ao mesmo tempo isso é muito legal de se perceber, porque a escrita do Paulo transparece toda a personalidade do jovem de maneira muito clara e fiel. Tanto que, depois de um tempo, a gente sabe como ele vai agir nas situações por ter conhecimento dessa personalidade egoísta e mimada. Lucas é filho único; depois da morte da mãe, que lhe deixa uma boa quantia de dinheiro, o pai é quem o abriga, mas os dois não são muito ligados por conta não só da orientação sexual do nosso protagonista, mas de como ele trata arrogantemente todo mundo. Sério. Lucas é um dos personagens mais reais e honestos que já vi justamente por demonstrar facilmente como ele enxerga as coisas e como não tá nem aí pras consequências. Dinheiro, pessoas, amizades, tudo pra ele parece ser muito descartável enquanto ele não os enxerga como parte de seu "plano de vida".

Aliás, todos os personagens são muito bem delineados. Confesso que não dá pra gostar de quase nenhum - eu pelo menos só consegui sentir um pouco de simpatia pelo pai do Lucas, mas já bem no final da trama. O Vítor me enerva por ser benevolente demais - a história dele com o Dudu é angustiante até o último parágrafo do livro, literalmente. A Thais parece ser a mais equilibrada, mas também faz umas coisas que não dá pra relevar... E daí temos a entrada do Jota, o "antagonista", o projeto de marginal que, no fim das contas, é isso mesmo. Também o achei muito bem construído! Os diálogos e as falas com/do Jota realmente transparecem o menino! É como se ele estivesse na minha frente, falando comigo! As gírias, os trejeitos, tudo! Jota e Lucas fazem um casal completamente improvável, mas é isso que chama atenção, eu acho.

O livro conta a vida desse pessoal todo por 10 anos corridos - entre 1997 e 2007. Existem várias menções a acontecimentos históricos da época (como a queda das Torres Gêmeas) e é bem assentado no período histórico em termos de uso de tecnologia e etc. São 10 anos bastante carregados de conflitos e reviravoltas a cada parágrafo! Sério, nunca li uma história com TANTOS detalhes e tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo! Quando você acha que a situação tá se ajeitando, respirando tranquilo... BOOM, no parágrafo seguinte explode uma bomba. E é assim o tempo todo. Por um lado é muito bom: você nunca sabe o que esperar, é um thriller de suspense e emoções e... E, por outro, você fica sem fôlego de acompanhar tanta desgraça. Eu demorei muito pra terminar a leitura, por vários motivos sim, mas um deles foi que eu precisava ter um momento de descanso. Se eu pegava pra ler, tinha que ir até o final de tal conflito... Mas daí o conflito gerava outro, e outro, e nunca acabava! Nesse sentido, é um livro feito pra ser lido de uma pegada só: não é a toa que é curtinho, tem menos de 200 páginas, então fica a dica: puxa o ar e segura o fôlego na leitura, senão você vai demorar mais de 3 meses (como eu demorei, risos).

De qualquer forma, é uma trama muito bem atada, com muitos detalhes, mas cada um ocupando seu devido espaço na história e sendo usado na hora certa. É um texto um pouco pesado, eu acho, e acredito que nem todo mundo vá gostar porque traz muitos elementos que eu mesma não gosto, como álcool, drogas, muito sexo e violência em demasia. Mas eu entendi o propósito de cada um deles e eles me convencem dentro do contexto, mas não é um livro juvenil, mesmo porque o protagonista já inicia essa jornada de 10 anos com vinte anos, né. Mas pra quem gosta de um livro de tirar o sono e muitas reviravoltas: é um prato cheio.

Título: Remoto e Improvável.
Autor: Guilherme Oli e Paloma Leite
Idioma: português
Ano de Publicação e Editora: 2014, PerSe.

Sinopse: Um homem e uma mulher se conhecem e, por alguma razão misteriosa, se atraem. Por que não se entregar? Afinal, amanhã, ninguém sabe.
Mas e quando há quilômetros de distância e inimigos clássicos de toda persistência amorosa entre eles?
E quando nem os autores sabiam como esse romance terminaria e simplesmente deixaram-se levar por esse turbilhão de emoções vivido pelos personagens? Este é Remoto e Improvável!
Conheça Tarso e Bia. Uma história epistolar, contada apenas em trocas de e-mails e sem um caminho pré-estabelecido.
E pode ser que seja uma história de amor.


A história de Tarso e Bia não é contada em forma de parágrafos ou texto corrido, mas sim pela troca de e-mail entre os dois. Tarso é um homem um pouco mais velho, de carreira aparentemente sólida numa empresa grande, e que vive pra isso mesmo: trabalhar, sem muitas perspectivas de vida. Bia é energética, cheia de vida e no auge de sua carreira também. Os dois "se esbarram" numa festa promovida pela empresa de ambos e, com a ajuda de um pouco de alcool, acabam passando a noite juntos.

Só que Tarso é extremamente religioso e vê essa noitada como um pecado. Bia só a enxerga como mais uma. Na noite seguinte, ela praticamente já está saindo com outros. Ela conta suas estripulias ao melhor amigo Kadu, que aparece recorrentemente no texto, mas raramente como voz ativa na trama. Aliás, poucos são os personagens que têm voz ativa: os acontecimentos nos são  passados pelos olhos de Tarso e Bia respondendo e-mails entre si e com os colegas/amigos. Por esse motivo, alguns detalhes são deixados de lado e a gente tem que preencher as lacunas temporais que ficam no ar entre uma conversa e outra.... Isso poderia ter saído de forma tão errada que nem sei dizer, mas aqui, pelo contrário, e graças ao manejo dos autores, acabou sendo muito bem colocado! Ao preenchermos essas lacunas, dá pra imaginar certinho o que aconteceu, dá pra acompanhar sem dúvida alguma a vida de todos os personagens (às vezes até dos mais secundários, como o próprio Kadu e o gato da Bia, o Tolstói, que aparece até na capa do livro).

Os personagens são bem construídos, mas algumas vezes pecam para o lado do estereótipo. O Kadu, por exemplo, o amigo gay da Bia, é lotado deles, e isso me incomodou um pouco, mas não a ponto de me fazer querer parar a leitura. O Tarso transparece (até demais) todas as suas crenças religiosas. Usa de argumentos que estamos acostumados a ouvir o tempo todo, mas de um jeito sério e educado que quase dá pra acreditar! Os dois protagonistas vão alterando seus pensamentos ao longo da história e na medida em que vão convivendo mais um com o outro - afinal, mundos tão diferentes ou se chocam e se repelem, ou se completam, né? -, mas a Beatriz, a meu ver, é a que mais sofre e se desencaixa. Às vezes esse desencaixe é bem rápido: ela muda de opinião, que antes era muito, mas muito rígida (sobre liberdade, ate certo ponto de feminismo e tal), consideravelmente fácil. Há um acontecimento na última metade do livro (que não vou nomear para não dar spoilers diretos) que a faz ficar mais "fraca", "vulnerável"... E daí eu não consegui mais enxergar a mesma Bia do começo do livro na Bia do final...

Não sei como a escrita foi feita, já que foram dois autores trabalhando juntos, mas não consegui perceber nenhuma quebra de continuidade ou sequer de vocabulário entre os e-mails de todos os personagens. É tudo muito linear, sabe? No sentido de que não dá pra saber quem foi que escreveu cada parte, e isso é um ponto mais que positivo! Tem autores que, quando resolvem escrever juntos, a gente nota a diferença no estilo da escrita na hora. Mas aqui não! Compartilhem esse segredo aí porque eu adorei!

É uma trama leve (até certo ponto, porque trata de assuntos sérios como extremismo religioso, liberdade, casamento, aborto, família, etc), contada de forma interessante e que te prende do começo ao fim. Li bem rápido, são 120 páginas só, recomendo pra quem quem passar o tempo com uma história cheia de pequenas mas grandes lições.


Resolvi fazer as duas resenhas juntas porque os livros me foram enviados pelos autores, Guilherme e Paulo, juntos, e também pelo livro do Guilherme e da Paloma não ter um protagonismo LGBTQ. Os dois livros são muito bem escritos e revisados - e esse detalhe eu vou ressaltar porque é MUITO BEM revisado mesmo! E em livro nacional de editora pequena/auto-publicação isso tem que ser ovacionado. São literaturas diferentes, mas ambas merecem destaque - procurem saber mais sobre os outros trabalhos dos dois!

Agradeço imensamente a confiança dos dois e peço desculpas pela demora, mas finalmente a resenha saiu e a palavra final pra todo mundo é: LEIAM!

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