27/01/2014

Review - Will Grayson, Will Grayson


Título: Will & Will - Um nome, um destino (ou Will Grayson & Will Grayson)
Autores: John Green e David Levithan
Idioma: Inglês/Português
Ano de publicação: 2010 (original), 2013 (Brasil, pela Galera Record).

304 páginas no original, e 352 na versão brasileira.

Em uma noite fria, numa improvável esquina de Chicago, Will Grayson encontra... Will Grayson. Os dois adolescentes dividem o mesmo nome. E, aparentemente, apenas isso os une. Mas mesmo circulando em ambientes completamente diferentes, os dois estão prestes a embarcar em um aventura de épicas proporções. O mais fabuloso musical a jamais ser apresentado nos palcos politicamente corretos do ensino médio




Esse é o livro que eu esperei 2013 inteiro pra conseguir ler. Um dos primeiros do gênero publicado por uma grande editora, que teve ações de marketing, que chegou às prateleiras com o devido destaque e... só por causa do nome do John Green. Convenhamos, ninguém daria a mínima pra esse livro, acho que nem metade das pessoas leria se não tivesse o nome dele ali, estampado com uma fonte de tamanho quase igual ao título. O hype do John Green influenciou infinitas e infinitas vezes a compra dos direitos de publicação e as leituras que se seguiram, vamos ser honestos.

E eu vou ser honesta: nunca li A Culpa é das Estrelas e não tenho vontade. Esse é meu primeiro contato com John Green e eu não comprei o livro por causa dele, ou do nome dele. Comprei porque, gente! Um dos poucos boy's love que vejo na livraria, eu tenho que conferir como esse negócio ficou!

Então vamos lá.

O livro, assim como Nick & Norah, um dos carros-chefe do David Levithan, é dividido em capítulos alternando os personagens. Ou seja, nos capítulos de número ímpar, temos o Will Grayson escrito pelo John Green. Nos capítulos de números pares, o Will pelo Levithan. Mesmo não sabendo dessa divisão, acho que se você já leu alguma coisa do Levithan vai perceber qual o Will que ele escreve. Porque os dois são completamente diferentes no estilo, o Green e o Levithan, e acho que isso foi um dos motivos de ter dado certo. Afinal, se eles tivessem estilos parecidos, a história ficaria confusa mesmo com a alternância dos personagens.

Para separar ainda mais os dois, o Will do Green escrever todo certinho. É meticuloso até, sistemático. Tem uma regra pra tudo da via (ou apenas três para a vida toda!) e é um garoto recluso, mas não tanto. O Will do Levithan tem sérios problemas com: 1) letras maiúsculas e pontuação, 2) a vida em geral, 3) ele mesmo. O garoto é depressivo, odeia todo mundo e tudo ao seu redor - menos o affair que ele tem com um outro garoto pela internet.

Will Grayson 1 não é gay, mas tem um melhor amigo gay, Tiny Cooper, que rouba praticamente toda a cena do Will 1 quando é a vez dele contar a história. Tiny não está na capa do livro, mas é ele quem deveria ser o personagem principal. Digo, a história praticamente toda gira em torno dele e do musical que ele escreveu sobre... bom, ele mesmo. Tiny é um personagem hilário e ao mesmo tempo comovente. Gostaria muito de ter lido a versão original da história só por causa desse detalhe, porque as piadas ficariam muito melhor contadas em inglês (Tiny é descrito como um cara gigantesco, extravagante e afeminado que joga futebol e é presidente da Aliança Gay-Heteros da escola).

Will Grayson 2 é gay, mas está no armário por medo de como o mundo vá agir depois que ele finalmente sair. Ele é um personagem deveras conturbado, tem um relacionamento estranho com a mãe por causa da saída de seu pai da vida dos dois (que não é detalhada no livro), e tem amigos mais estranhos ainda. A principal delas é Maura, uma gótica que tem uma queda do tamanho de um precipício por ele e que acaba sendo um ponto importante na trama, já que ela faz a reviravolta acontecer e os dois Wills se encontrarem.

Sinceramente? Achei a coisa bastante clichê e previsível. A escrita do Levithan é previsível. É crua, chega a ser rude até. Mas quem gostou de Nick & Norah já está acostumado com isso. É o mesmo estilo, sem papas na língua, por assim dizer. Não achei a escrita do Green esplendorosa, pelo contrário. Tive a impressão que ele foi "levado pelo personagem", que o Will meio que carregou o John Green nas costas e que no final ele só escreveu o que deveria ser escrito. Sabe? Eu tenho essa sensação quando estou escrevendo, é aquela famosa coisa que "o personagem demanda, o autor escreve" que dizem. Às vezes é bom, porque é ele quem comanda a história afinal, mas às vezes é ruim, porque transparece que você não está a fim de fazer as vontades dele, mas vai lá e faz. E foi essa última impressão que tive do Will 1. Ele simplesmente se deixou levar pela trama.

Como é um dos primeiros romances cujo personagem principal (ou um deles) é abertamente gay, dou uma colher de chá para o Green. Não sei se ele já escreveu outros romances do tipo, mas que eu saiba, não. Levithan já é expert no assunto, mas a escrita dele não parece evoluir. É como se eu pegasse seus personagens e só mudasse o nome, todo mundo parece o mesmo pra mim. E isso me deixa triste, porque eu queria mesmo ter adorado esse livro. Minhas expectativas eram absurdamente altas, confesso, e isso meio que atrapalhou o desenrolar da coisa. Eu o devorei em dois dias, porque é bem fácil e fluido, mas não porque a história me cativou a esse ponto.

Levithan terá outro livro lançado ainda esse ano pela Galera Record, como já falei aqui: Two Boys Kissing. Esperemos para ver!

A maioria das resenhas que li ficou falando sobre a "parte gay" da história, em como o pré-conceito - e preconceito - da pessoa que leu mudou ao longo da trama, e em como era "novo", "polêmico", "estranho" ter um livro desse na prateleira da livraria da esquina. Um fato que me deixou incomodada e ainda mais triste e desanimada, sinceramente. É por comentários como esses que ver publicações LGBTs melhores (em níveis de história) para vender por aí se torna sonho/realidade distante.

De qualquer forma, a novela já entrou para a lista dos mais vendidos do New York Times logo na semana do seu lançamento, e permaneceu por lá nas três semanas seguintes, o que é um feito bastante bom para um livro queer. De novo, o que um nome não faz na capa, né?

Recomendo como passatempo. A ideia é válida, mas os argumentos são fracos: mostrar que o mundo não é assim tão grande. Ele é redondo.

Um parágrafo bom sambando na nossa cara.
Capa do lançamento original, que eu particularmente acho que combina mais com a história.


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