04/05/2015

Os Desafios da Escrita - Sobre publicar um livro

Publiquei um livro totalmente escrito pela minha pessoa pela primeira vez em 2011, lá no Clube de Autores. Ele, o Primarius, foi escrito muito antes, porém, em meados de 2008/2009 (vou confessar que não me lembro ao certo), mas, como podem inferir, demorei algum tempo para "tomar coragem" e colocá-lo no mundo de vez. Em 2012 participe da Fantástica Literatura Queer no volume verde, da (infelizmente falecida) Tarja Editorial, com o conto "Chuva Ácida", que também foi escrito antes para um desafio da Lavanderia. Depois, reuni numa coletânea chamada de "Corações de Magia" vários contos fantásticos meus e também disponibilizei para venda no Clube (hoje fora de circulação).

Todas essas foram publicações físicas. Em seguida, passei para as digitais e lancei o "Império Esquecido" e o "A Última Festa" na Amazon, além de ter reeditado a "Anistia", a prequel de Primarius, também para a plataforma.

Nesse meio tempo, se passaram quatro anos. Quatro anos. E estou aqui novamente lançando outra publicação física, o romance "Você É Só Pra Mim", pela Editora Metanoia, que foi escrito três anos atrás, inclusive, em 2012. O caminho até aqui foi longo e muita gente veio me perguntar o que aconteceu nesses quatro anos, pedir dicas, saber como funciona o processo de publicação e etc, então resolvi fazer esse post pra contar um pouquinho de como foi pra mim publicar esse último romance.
Enfatizo muito no parágrafo de cima o pra mim porque para cada autor o processo de publicação é diferente. Não existem leis gerais ou caminhos a serem percorridos por todos, mas vou deixar registradas as minhas dicas pra quem quer seguir alguns desses passos. Uma coisa que eu aprendi é que você tem que construir esse caminho - sozinho, acompanhado, as escolhas sempre vão depender de você.

Construa seu público

Eu comecei a distribuir/publicar minhas coisas por aí há muito mais tempo que esses quatro anos. Não sei, deve fazer uns 10 anos, sem brincadeira. Em fóruns, comunidades, em qualquer lugar que tinha espaço eu estava lá! Hoje, uso muito o Wattpad e isso é e foi fundamental.
Descobri o que e, principalmente, quem gostava de ler o que eu escrevia, e fui me aprimorando nesses anos até a coragem de publicar o Primarius crescer.


Pesquise

Eu acho que é trabalho fundamental do escritor fazer pesquisa, mas não só para efetivamente escrever. Pra tudo na vida eu pesquiso, até pra sair de casa (certo, pode ser um pouco de exagero, mas não vou deixar de dizer que isso me ajuda muito em tudo que faço)!
Se você quer publicar, pesquise antes como funciona.
Eu comecei como autora independente - e ainda sou, afinal vendo meus livros por mim mesma, né? - e tive que aprender a diagramação, a revisar, a fazer praticamente tudo sozinha. Tá certo que eu gosto disso, mas se você não está disposto, vai ter que pesquisar o passo-a-passo de publicação para pelo menos saber a quem você vai pedir ajuda!
Além disso, se quiser publicar com editoras também, é fundamental pesquisar as que se encaixam na sua linha de escrita! Toda editora tem uma linha editorial e ela não vai sair dela só pra te encaixar! Pra exemplificar, não dá pra querer que uma editora que só publica livros e ensaios científicos (exemplo: editoras de faculdades, normalmente) publique um romance medieval seu. Escolher e selecionar editoras que possam se interessar em bancar algo seu é um dos primeiros passos a dar depois que você finaliza seu manuscrito original.
As editoras que lançaram todas as minhas obras físicas têm uma linha bem específica, e eu mandei o que elas queriam, então foi relativamente fácil nesse sentido. Lógico: tudo depois de saber o que elas queriam.

Selecione

Depois de pesquisar as editoras, você tem que levar em consideração diversos fatores para selecionar as que melhor se encaixam no seu perfil: localização, referência, publicações anteriores, autores da casa, qualidade, comunicação, nome... Enfim. Esses são alguns exemplos.
Infelizmente hoje, no mercado brasileiro, existem muitas gráficas disfarçadas de "editoras". O que isso quer dizer? Que elas chegam com a proposta de publicação para o autor, que deve desembolsar uma quantidade (enorme) de recurso financeiro (dinheiro, risos) em "troca" de um serviço de gráfica que, nada mais é, que a publicação física do volume do livro. Muitas das vezes eles contratam um pessoal terceirizado (revisor, capista, etc.) e cobram o serviço à parte.
Sinto muito, mas acho isso um desrespeito com o autor.
E pra isso que serve a sua seleção, pra excluir esse tipo de coisa do seu caminho.
Não estou dizendo que não vale a pena, nem desmerecendo trabalho de ninguém: se você tiver condições (financeiras) para isso, faça sabendo dos riscos. E pesquise sobre os riscos.
Tive diversas propostas de "editoras" diferentes (e para diversas obras minhas também, inclusive as que eu coloquei na Amazon e no Clube, sim), mas todas elas queriam me cobrar um rim para publicar. Recusei todas e não me arrependo. Se for pra desembolsar algo na publicação, faço isso de modo satisfatório como autora independente.

Prepare seu original e seu currículo

Quem disse que autor não precisa de currículo?! Mas é lógico que precisa!
Prepare seu "portfólio", uma carta de recomendação, uma carta de intenções, qualquer coisa para mostrar para a editora quem diabos é você.
Editoras recebem CENTENAS (às vezes milhares) de e-mails/cartas/malotes por dia. O que vai fazer o SEU se destacar? Além da qualidade do seu texto, antes de ele chegar a ser lido, as pessoas precisam conhecer o seu trabalho. Faça um book proposal (pesquisem sobre o que é, inclusive, pois é extremamente útil tanto pra eles, quanto pra nós! No youtube tem vários vídeos mostrando o assunto!), mostre que você pesquisou direito, construa seu caminho com cuidado e dedicação.

Obedeça os parâmetros das editoras

Assim como cada editora tem sua linha editorial, elas também são diferentes quanto ao recebimento de originais. Umas aceitam por e-mail, outras só por correio. Tem que ter uma formatação específica, tem que conter sinopse detalhada, resumo, sumário. Tem que enviar o texto completo ou só os primeiros capítulos? Se não respeitarem cada particularidade, a chance de você nem chegar a ser lido é muito alta.
Além disso: se proteja. Registre sua obra na Biblioteca Nacional, tome cuidado com plágio!

Seja humilde

"Sou o próximo best-seller nacional!"
"J.K. Rowling vai beijar meus pés!"
"Tolkien seria meu discípulo!"
Vamos abaixar a cabeça, né, senhores?
Saiba ouvir, saiba ser respeitado, não invada o espaço dos outros pedindo propaganda ou divulgação. Isso é muito chato, viu? Já tira todo o crédito de qualquer autor se ele não sabe como e onde buscar apoio! Faça essa parte da pesquisa também!
E saiba ser criticado. Lembre-se que você está expondo algo que você criou e que nem tudo agrada todo mundo, certo? Eu diria mais: procure ser criticado. Para isso serve a primeira dica lá, de construir seu público. Saiba o que está bom e o que precisa melhorar tanto por parte de "amadores" e leitores, quanto por parte de profissionais da área. Procure resenhistas neutros - de preferência que não te conheçam, que nunca leram nada de sua autoria - e mande seu original para eles. Não vale mamãe ou irmã/o dizer que "amou" pro livro ficar bom, viu?

Ao mesmo tempo, eu digo: não se desvalorize. Eu falei das "gráficas-editoras" ali em cima, né? Pense no seguinte: se escrever é também sua profissão, você não deveria receber por ela? Por que eu pagaria para trabalhar? Fiz uma postagem na Revista Pacheco justamente sobre isso, sobre se profissionalizar. Vale pensar sobre o assunto sim.

Melhore

Enviou e não recebeu resposta? Foi rejeitado? Saiba que você pode sempre melhorar. Sempre.
Não desista no primeiro "não", e não desista de correr atrás do que você quer - e pra isso você precisa saber o que quer exatamente. Faça perguntas do tipo "será que vale a pena ser publicado?", "será que esse original está mesmo bom? Ou posso fazer melhor?!", "será que mais pessoas se interessariam em ler?", "será?". Responda à essas perguntas com honestidade. Muitas vezes, na pressa de querer que algo seja publicado, a gente comete erros esdrúxulos sem perceber.
Na minha pequena trajetória que contei ali no começo do post, dá pra perceber que deixei todas as minhas obras "descansando" por um tempo até colocá-las à venda, ou enviá-las à editoras. Isso foi essencial para que eu pudesse trabalhar cada aspecto de cada escrito, e também me trabalhar, para ter certeza de quando mergulhar de vez nessa "profissão de escritor". Pois uma coisa é certa: não dá pra parar mais! E não dá pra pedir pra sair. Você se torna "uma figura pública".

Seja um leitor crítico

Você costuma ler? Espero que a resposta para essa pergunta seja nada menos que "óbvio". Todo autor precisa ser um leitor, mas também precisa ser algo mais que isso. Precisa ser um leitor crítico. O que isso quer dizer?
Leia de tudo, leia o que mais te agrada e o que menos te agrada também. Leia por prazer e por trabalho, como parte da pesquisa e como parte das suas horas de folga. Mas leia com outros olhos e leia principalmente aqueles autores e obras que mais se assemelham com o seu estilo de escrita e publicação. Se pergunte e reflita o motivo de eles terem sido publicados (e você, talvez, ainda não). Pense na forma como eles escrevem, na coerência e coesão da trama, nas palavras e no português (ou qualquer outro idioma) usado... Pense o que você faria de diferente e/ou se faria igual, se acrescentaria ou não. Mais: pense porque aquele parágrafo foi escrito, se ele foi importante para o leitor, se foi importante para o enredo. Afinal, todas as palavras de um livro tem um propósito e você deve tentar desvendar todos os "mistérios" por trás desse propósito.
Vai demorar mais pra ler? Vai, mas será uma leitura mais completa. Não vai ser só emoção, vai ser algo racionalizado. Sistematizado. Te auxiliará a melhorar, acredite.
Existem muitos livros que ajudam a formar um leitor crítico, que dão dicas de como ler um livro na visão do escritor, por exemplo. vVu citar um deles, do qual tirei algumas visões valiosas: Para Ler Como um Escritor - Um Guia para Quem Gosta de Livros e para Quem Quer Escrevê-los, da Francine Prose (traduzido no Brasil, editora Zahar). Pode ser encontrado com facilidade para compra.

Dito isso:

Não seja hipócrita

Isso é uma derivação da dica acima. Leu algo e não gostou? Achou que não "merecia"? Achou que podia fazer melhor? Vá lá e faça.
Do mesmo jeito que a gente não deve julgar um livro pela capa, não devemos julgar um autor/escritor por um texto ruim, às vezes mal trabalhado. Procure saber mais antes de sair destilando ódio por aí. Lembre-se que você pode estar dos dois lados da moeda algum dia.

Essa dica vale também para você que se diz o maior incentivador da literatura nacional, mas não lê nenhum autor independente, não lê "desconhecidos", não lê e-books, não compra livros e baixa "de graça" ou lê em aplicativos piratas.
Por favor, parem.

E também vale para uma outra questão: você quer que divulguem o seu trabalho? Por que não começa divulgando o trabalho dos outros? Leu algo que gostou? Publique fotos, resenhas, recomende em fóruns, em comunidades, grupos, amigos, parentes, etc. Conte pro autor o que você achou, o que gostou e o que não gostou também! Aproxime-se do mesmo modo que você gostaria que os seus leitores se aproximassem de você!

Por último, saiba que

Você não está sozinho

Em todos os sentidos. Você deve ter alguém que te apoie caso as coisas deem errado. Você deve ter um emprego (sim!) caso o tiro saia pela culatra e você não se torne o próximo best-seller. Faça as coisas com precaução, calcule frio mesmo e inclua nesse cálculo a variável que diz: você não é o único que está tentando. Editoras grandes (e tradicionais) são extremamente criteriosas e difíceis de se entrar. O mercado editorial brasileiro ainda é bastante conservador e sofre com variações muito bruscas (e lobby), o que impede investimentos maiores em novos autores. Hoje existem milhares de autores iniciantes, ou gente que se diz escritor, tentando encontrar uma luz nesse túnel. É um túnel bastante competitivo, amigos, e muitas vezes não tem nada de fair play. As pessoas jogam sujo mesmo! E por isso você tem que se destacar de alguma forma.
Considerando ainda que brasileiros não têm o hábito da leitura - e muito menos em ler autores nacionais desconhecidos -, o seu caminho será árduo e cheio de pedras. Estou dizendo que será difícil de uma vez, então reflita sobre as horas de sono que você vai perder, sobre o tempo que vai se dedicar e se isso vale a pena.

Mas então, você me pergunta:

Vale a pena?

Vale.
Se você ama escrever, e se você quer passar isso para outras pessoas, vale muito mais que a pena. Vale todo o sacrifício. Vale tudo.

Aqui, as fotos do meu filho mais novo, pra vocês darem uma olhada.
Aproveito e convido para o lançamento na próxima SEXTA, DIA 8 DE MAIO, em Belo Horizonte. Saiba mais aqui no facebook e na página exclusiva da obra.





Se você é escritor e quer ter seu trabalho divulgado aqui, entre em contato comigo e fale mais sobre isso ;)

2 comentários :

  1. Seu texto ficou muito bom! Esse negócio das gráficas disfarçadas de editoras é um problema foda, vejo muita gente mais nova e sem muito conhecimento caindo nessa.

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  2. Me ajudou muito, obrigada pelas dicas! É um mundo arriscado, mas o que não é? Me motivou ainda mais a correr atrás do meu sonho, bjs!

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